quarta-feira, 24 de junho de 2015

DIARREIA | CAUSAS E TRATAMENTO


DIARREIA | CAUSAS E TRATAMENTO



Neste artigo vamos abordar os seguintes pontos sobre a diarreia:
  • O que é diarreia.
  • Como funciona a digestão.
  • Causas comuns de diarreia.
  • Sintomas da diarreia.
  • Sinais de gravidade da diarreia.
  • Tratamento da diarreia.

O QUE É DIARREIA?

Tecnicamente chamamos de diarreia toda vez que evacuamos mais de 200g de fezes por dia. Ninguém precisa pesar as fezes para saber se está com diarreia ou não. Prefiro a definição que diz que diarreia é a evacuação de fezes pastosas ou liquidas efetuada mais de três vezes por dia.
Identificar diarreia é muito fácil, mas por que ela ocorre?
Bom, mais uma vez, para entender uma doença, é necessário entender o funcionamento normal do organismo, neste caso, do sistema digestivo (ou digestório).

COMO FUNCIONA A DIGESTÃO?

Digestão é diferente de absorção. Digerir é o processo de quebrar compostos grandes em moléculas pequenas o suficientes para serem absorvidas. Primeiro se digere os alimentos para depois podermos absorvê-los. Se os alimentos não forem digeridos, os intestinos não conseguem absorvê-los, sendo os mesmos eliminados nas fezes.
Após ingerirmos um alimento qualquer, ele desce pelo esôfago até o estômago. O estômago tem três funções básicas: matar germes presentes nos alimentos através do seu pH baixo (muito ácido), quebrar moléculas grandes em moléculas pequenas para posterior absorção em outros segmentos do trato digestivo e armazenar comida, liberando para o duodeno os alimentos processados em velocidade constante.
Sistema digestivo
Sistema digestivo
Ao sair do estômago, o alimento chega ao duodeno, a primeira parte do intestino delgado. O duodeno recebe as secreções do pâncreas e da vesícula biliar.
O pâncreas libera o suco pancreático, um líquido rico em bicarbonato que ajuda a diminuir a acidez dos alimentos vindos do estômago. O suco pancreático também é rico em enzimas que fazem parte do processo de digestão de proteínas, carboidratos e gorduras.
A vesícula biliar produz a bile, que é a responsável pela coloração das fezes e pela digestão de gorduras, colesterol e algumas vitaminas (A,D,E e K).
Após o duodeno, temos o jejuno e o íleo, respectivamente 2º e 3º partes do intestino delgado. Jejuno e íleo formam a maior parte do nosso sistema digestivo, podendo chegar a 6 metros de comprimento. Esta é a região onde ocorre a maior parte da absorção dos alimentos digeridos. O intestino delgado é responsável pela absorção de mais ou menos 1 litro de água.
Ao sair do intestino delgado, todo material que não foi absorvido chega ao cólon (intestino grosso). O cólon tem aproximadamente 1,5 metros e é colonizado por mais de 700 espécies de bactérias que participam da digestão dos elementos ainda não digeridos, principalmente fibras e polissacarídeos (carboidratos com moléculas complexas). Essa digestão realizada pelas bactérias do cólon é que causa os gases intestinais. Porém, a função básica do intestino grosso é reabsorver a água presente no conteúdo alimentar e eliminada nas secreções ao longo do trato digestivo, formando fezes sólidas ao final deste processo. O cólon reabsorve até 19 litros de água por dia.
Portanto, para resumir, podemos dizer que:
1. Estômago e o duodeno, com o auxílio do pâncreas e da vesícula, digerem os alimentos.
2. O intestino delgado (jejuno e íleo) absorvem grande parte dos nutrientes digeridos e um pouco de água.
3. O cólon absorve uma grande quantidade de água e um pouco de nutrientes digeridos.
Tudo o que não foi digerido ou absorvido ao final do cólon sai nas fezes.

PRINCIPAIS CAUSAS DE DIARREIA:

1. INTOXICAÇÃO ALIMENTAR

Mais de 200 tipos de germes, entre vírus, bactérias e parasitas podem causar quadros de diarreia por intoxicação alimentar. A diarreia pode ser causada pelo próprio germe ou por toxinas produzidas pelo mesmo. Quanto maior a concentração de toxinas ou micróbios, maior é a chance destes vencerem a acidez do estômago e alcançarem os intestinos. Algumas toxinas após sua produção não são destruídas no cozimento, por isso, o armazenamento de alimentos deve ser feito de modo correto antes e depois da preparação.
A intoxicação alimentar se apresenta de três maneiras diferentes:

1.1 Vômitos como principal manifestação

O início súbito de náuseas e vômitos, podendo ou não ser acompanhado de diarreia, menos de 12 horas após ingestão de alimentos contaminados (em geral menos de 6 horas), costuma indicar intoxicação por enzimas pré-formadas. Não é bactéria em si que causa a intoxicação, mas sim enzimas que elas produziram e ficaram depositadas nos alimentos. As toxinas agem principalmente no estômago, irritando sua mucosa e causando os vômitos.
Este tipo de intoxicação alimentar é normalmente causado por toxinas das bactériasStaphylococcus aureus e Bacillus cereus.
Outra causa de intoxicação alimentar com vômitos é um vírus chamado Norovírus. Esse vírus pode ser transmitido através de alimentos contaminados ou de pessoa para pessoa através de aerossóis como um resfriado.
Nos três casos acima a doença é autolimitada com 3 a 4 dias de duração e não necessita de tratamento específico além da hidratação e medicamentos para aliviar os sintomas.

1.2 Diarreia aquosa como principal manifestação

A diarreia aquosa causada por intoxicação alimentar é normalmente causada pela lesão da mucosa do intestino delgado pela própria bactéria ou por toxinas produzidas somente após a ingestão do germe. Neste caso os sintomas surgem somente após 24-48h da ingestão do alimento. Vários germes como Cyclospora cayetanensis, Escherichia coli e Clostridium podem ser a causa. Infecções virais também são causas de diarreia aquosa. Pode haver febre baixa (menor que 38ºC).
Geralmente quando várias pessoas com contato social (trabalho, escola, etc.) desenvolvem diarreia, mas não apresentam ingestão de nenhum alimento suspeito em comum, costuma tratar-se de infecções virais, que se transmitem do mesmo modo que os vírus da gripe e do resfriado.
As bactérias e toxinas agem na mucosa do intestino delgado, aumentado suas secreções e acelerando a velocidade com que os alimentos passam. O intestino delgado não consegue digerir e absorver os alimentos, que, deste modo, chegam em grande quantidade ao cólon. O volume de líquidos e nutrientes que chega ao intestino grosso é muito grande, impedindo sua absorção.
Mais uma vez, o quadro costuma ser autolimitado com duração de 3 a 4 dias. Não é necessário nenhum tipo de tratamento específico. O próprio corpo se encarrega de controlar a bactéria e sarar a mucosa do intestino.
A cólera é a infecção por uma bactéria chamada Vibrio cholerae, que causa uma severa diarreia aquosa. Os pacientes podem ter mais de 20 evacuações por dia e chegam a perder até 1L de água por hora. Nos casos mais graves é necessário internação para hidratação por via venosa.

1.3 Diarreia sanguinolenta ou com pus e muco

A diarreia que apresenta sangue, pus, muco ou febre alta associada deve ser sempre avaliada por um médico. Esse quadro é chamado de diarreia inflamatória ou disenteria e pode levar à sepse ou outras complicações graves.
A diarreia inflamatória é causada por bactérias como Salmonella, Shigella, Campylobacter eEscherichia coli enterohemorrágica, que acometem a mucosa do intestino grosso. Pode ser necessário o tratamento com antibióticos para controlar a infecção.
Todavia, é importante salientar que em casos de infecção por Escherichia coli, o uso de antibióticos pode piorar a diarreia e favorecer o aparecimento de um grave doença chamada síndrome hemolítica urêmica, que leva à anemia e insuficiência renal grave. Por isso, deve-se sempre realizar cultura das fezes para identificar o agente causador e indicar a necessidade ou não de antibióticos. Nunca se auto medique com antibióticos em caso de diarreias.
O uso mal indicado de antibióticos além de causar complicações, pode perpetuar a diarreia por impedir que a flora bacteriana original do intestino volte a crescer. Sem a flora natural não há digestão de alimentos no cólon e a diarreia não cessa.
Outro perigo dos antibióticos é a infecção pelo Clostridium difficile, uma bactéria que se aproveita da ausência da flora bacteriana normal para causar um diarreia inflamatória grave. A infecção pelo Clostridium difficile é a principal causa de diarreia em pacientes internados e em uso de antibióticos.
Diarreias causadas pela bactéria Campylobacter estão associadas ao surgimento da síndrome de Guillain-Barré.
Além das gastroenterites bacterianas, diarreia sanguinolenta também pode ocorrer nos casos de infecção pela ameba Entamoeba histolytica. A amebíase intestinal provoca um quadro um pouco mais arrastado, com semanas de evolução, provocando perda de peso, cólicas e diarreia aquosa, que muitas vezes se transforma em disenteria.

2. DIARREIA CRÔNICA

Toda diarreia com mais de duas semanas de evolução deve levantar suspeitas sobre alguma doença do trato intestinal que não tenha origem em uma intoxicação alimentar. Diarreias com mais de um mês de evolução são considerada diarreias crônicas e devem sempre ser investigadas.
As principias causas de diarreia crônica são as doenças inflamatórias intestinais, como a Doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, SIDA (AIDS), infecção por amebas e outros parasitas, tumores e hipertireoidismo.

2.1 Síndrome do intestino irritável

A síndrome do intestino irritável é uma causa comum de diarreia intermitente e dor abdominal. Não existe nenhuma doença orgânica que justifique o quadro. Normalmente o paciente se apresenta com diarreia e cólicas relacionadas a períodos de estresse emocional. Alguns pacientes alternam diarreia com constipação intestinal, outros apresentam pequenas quantidade de muco nas fezes. Excesso de gases intestinais também é frequente.
A síndrome do intestino irritável é uma doença benigna e pode apresentar melhora com algumas mudanças na dieta e no estilo de vida.
A presença de diarreia com sangue não ocorre na síndrome do intestino irritável. A sua presença indica a existência de outra causa para a diarreia.

2.2 Síndrome de má absorção

Existem algumas doenças dos intestinos que impedem a absorção de determinados nutrientes, levando à diarreia.
Um exemplo comum é a intolerância a lactose (derivados de leite). Ocorre devido a uma deficiência na produção da lactase, enzima que digere a lactose no intestino delgado.
Outro exemplo é a pancreatite crônica, onde a ausência do suco pancreático impede a digestão de vários nutrientes ingeridos.
A doença celíaca ocorre por incapacidade de absorver glúten, uma proteína presente no trigo e em vários outros cereais.
A síndrome de má absorção também pode ocorrer por parasitoses, como na giardíase.
Como se pode ver, existem dezenas de causas para diarreia. A maioria dos casos é autolimitado, causado por infecções viriais ou intoxicação alimentar.

QUANDO PROCURAR UM MÉDICO DEVIDO A DIARREIA?

Quando a diarreia apresentar algum sinal de gravidade é necessário procurar atendimento médico, pois a mesmo provavelmente não irá desaparecer espontaneamente e ainda pode evoluir para um quadro mais grave. São sinais de gravidade da diarreia:
  • Febre alta, normalmente maior que 38,5ºC.
  • Diarreia severa que não melhora após 48-72h.
  • Desidratação.
  • Diarreia com sangue.
  • Diarreia por mais de duas semanas.
  • Diarreia em pacientes idosos e/ou imunossuprimidos.
  • Crianças que recusam hidratação ou alimentação durante a diarreia.
Se não houver os sinais de gravidade acima, a diarreia deve ser tratada com ingestão generosa de líquidos. Quanto mais intensa for a diarreia, maior deverá ser a reposição de água. Já existem soluções prontas para hidratação à venda nas farmácias, como o Pedialyte®. Nas farmácias populares este soro é distribuído gratuitamente.
Uma opção para quem não pode sair de casa imediatamente é o soro caseiro, que pode ser feito com 3,5 gramas de sal e 20 gramas de açúcar diluídos em 1 litro de água filtrada ou fervida. Se você não tiver uma balança para medir a quantidade de sal e açúcar, o soro pode ser feito a partir da adição de uma colher de chá de sal mais uma colher de sobremesa de açúcar em um recipiente com 1 litro de água. Esta forma, porém, é a menos desejada, dado o risco de haver erros na dosagem. Em geral, o soro pronto adquirido nas farmácias é a melhor solução. Uma vez pronto, o soro deve ser consumido em no máximo 24 horas.
Deve-se evitar a todo custo o uso de medicamentos para interromper a diarreia. Se há uma bactéria ou toxina no trato intestinal, ela deve ser expulsa do corpo. A suspensão da evacuação em doentes infectados pode levar à sepse grave.
Remédios como o famoso Imosec® (Loperamida) só devem ser usados sob prescrição médica. Na maioria dos casos ele não está indicado, pois pode agravar a infecção. Na maioria dos casos, não é preciso nenhum remédio para a diarreia. Basta ingerir líquidos. Se houver vômitos, podem ser usados medicamentos para controlá-lo.
Medicamentos probióticos, como o Floratil® (Saccharomyces boulardii) podem ajudar a reduzir o tempo de diarreia em alguns casos, mas seu benefício é bastante questionado.
O paciente não precisa entrar em jejum quando tem diarreia. Na verdade, a alimentação ajuda a controlar a diarreia. Deve-se apenas evitar alimentos gordurosos ou à base de leite, pois durante uma infecção intestinal a mucosa do intestino delgado está muito inflamada e não consegue absorver nutrientes complexos. Refrigerantes e Gatorade não são bons para diarreia, pois contêm grande quantidade de açúcar.
Para diminuir a contaminação, deve-se sempre lavar as mãos antes de preparar alimentos ou iniciar refeições. Pacientes com diarreia não devem preparar alimentos para outras pessoas até que estejam curados.

ICTERÍCIA | NEONATAL E ADULTO


ICTERÍCIA | NEONATAL E ADULTO


Antes de falar da icterícia propriamente dita, é importante gastar algumas linhas explicando o que é a bilirrubina e por que ela se acumular no sangue.

O QUE É BILIRRUBINA?

Nossas hemácias (glóbulos vermelhos) têm uma vida média de 120 dias. Quando elas ficam velhas, são levadas para o baço, onde são destruídas. Um dos produtos liberados neste processo é a bilirrubina, um pigmento amarelo-esverdeado.
Todos os dias, milhões de hemácias são destruídas e toda essa bilirrubina liberada tem que ser metabolizada em algum outro sítio, já que o baço não efetua essa função. O grande órgão responsável pelas metabolizações das substâncias do nosso organismo é o fígado, e é para lá que são encaminhadas toda a bilirrubina recém-formada no baço.
O único meio de transportar qualquer substância pelo corpo é através da circulação sanguínea. A bilirrubina produzida no baço não se dilui na água. Deste modo, para ser transportada pelo sangue ela precisa se ligar a uma proteína chamada albumina. Em uma analogia bem grosseira, poderíamos dizer que a bilirrubina não sabe nadar e precisa de uma canoa para atravessar a corrente sanguínea.
Essa bilirrubina insolúvel produzida no baço é chamada de bilirrubina indireta (ou bilirrubina não conjugada). Sua concentração sanguínea normal varia entre 0,1 e 0,6 mg/dL.
Ao chegar ao fígado, a bilirrubina indireta é metabolizada e se transforma em uma substância solúvel em água, chamada agora de bilirrubina direta (ou bilirrubina conjugada). Essa bilirrubina direta é eliminada através das vias biliares em direção ao trato gastrointestinal, onde será eliminada nas fezes. A bilirrubina direta após cair nos intestinos é mais uma vez metabolizada, agora pelas bactérias ali presentes, tornando-se um pigmento de coloração marrom responsável pela cor característica das nossas fezes.
Uma pequena parte da bilirrubina produzida no fígado extravasa para a corrente sanguínea. A concentração normal de bilirrubina direta no sangue varia entre 0,1 e 0,4 mg/dL. Essa bilirrubina direta diluída no sangue é filtrada pelos rins e eliminada na urina. Parte da coloração amarelada da urina se dá pela presença de pequenas quantidades de bilirrubina na mesma.
Portanto, os valores normais de bilirrubina sanguíneos nos adultos são os seguintes:
Bilirrubina total: 0,2 a 1,1 mg/dL
Bilirrubina indireta: 0,1 e 0,7 mg/dL
Bilirrubina direta: 0,1 a 0,4 mg/dL
Obs: esses valores podem variar um pouco dependendo do laboratório e do método usado para medição. Se quiser saber mais sobre marcadores de doença do fígado, leia: O QUE SIGNIFICAM AST (TGO), ALT (TGP) E GAMA GT?
A icterícia surge quando, por algum motivo, ocorre um acúmulo de bilirrubina direta e/ou indireta, no sangue. Quando as concentrações de bilirrubina ultrapassam 1,5 a 2,0 mg/dL, esse excesso de pigmento extravasa em direção à pele, mucosas e à membrana que recobre a esclera (parte branca dos olhos), levando a característica aparência amarelada da icterícia.

CAUSAS DE ICTERÍCIA

A icterícia surge, basicamente, quando há uma produção excessiva de bilirrubina e/ou quando há uma eliminação deficiente da mesma. A icterícia neonatal ocorre pelos dois motivos e será abordada separadamente na parte final do texto.
Icterícia
Icterícia por aumento de bilirrubina indireta
A bilirrubina indireta pode se acumular quando há uma grande destruição da hemácias – além daquela considerada normal -, jogando na circulação sanguínea uma quantidade de bilirrubina maior do que a capacidade do fígado de excretá-la.
Essa destruição é chamada de hemólise e pode ocorrer por vários motivos:
– Uso de drogas (ribavirina, benzocaína, dapsona, fenazopiridina, paraquat, gás arsênico, chumbo, etc.).
– Infecções como malária e leptospirose.
– Defeitos na própria hemácia como na esferocitose hereditária, hemoglobinúria paroxística noturna, anemia falciforme, talassemia etc…
– Doenças auto-imunes.
O acúmulo de bilirrubina indireta também pode ocorrer por incapacidade do fígado em conjugar a mesma em bilirrubina direta. A síndrome de Gilbert e a síndrome de Crigler-Najjar são duas doenças genéticas que podem causar icterícia por deficiência da enzima do fígado responsável pela conjugação da bilirrubina.
Icterícia por aumento de bilirrubina direta
A icterícia por bilirrubina direta ocorre quando o fígado consegue conjugar a bilirrubina, mas por algum motivo não consegue excretá-la em direção aos intestinos. Entre as principais causas podemos citar:
– Hepatites virais
– Esteatose hepática grave
– Cirrose hepática
– Cirrose biliar primária
– Obstrução das vias biliares por cálculos
– Câncer do fígado ou das vias biliares
– Câncer do pâncreas com obstrução das vias biliares

SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS ASSOCIADOS À ICTERÍCIA

Além da pele e dos olhos amarelados, a icterícia costuma acometer também as mucosas. O freio da língua é outro ponto onde pode-se notar o pigmento amarelado da bilirrubina.

Icterícia – pele amarelada
A deposição do pigmento na pele, além de ser responsável pela coloração amarelada, também causa um comichão intenso. Muitas vezes o paciente se queixa mais da coceira do que da própria alteração de cor da pele.
Quando a icterícia é de origem direta, ou seja, devido a bilirrubina solúvel em água, podemos ter mais 2 achados típicos:
– Colúria:  quando há muita bilirrubina direta no sangue, há consequentemente muita bilirrubina sendo filtrada pelos rins. O resultado é uma urina cor escura (tipo Coca-Cola) ou com um alaranjado forte, causado pelo excesso de pigmento na mesma. Como a bilirrubina indireta não é solúvel na água, ela não é filtrada pelo rim, por isso, não há colúria nestes casos de icterícia.
– Acolia fecal: quando ocorre algum impedimento na excreção da bilirrubina conjugada para os intestinos, o paciente pode apresentar fezes muitos claras, por vezes, quase brancas, devido a ausência de pigmento na mesma.

ICTERÍCIA NEONATAL

A icterícia neonatal ou icterícia do recém-nascido é uma condição comum, principalmente e bebês nascidos antes de 36 semanas.
Na maioria do neonatos  a icterícia é um fenômeno normal e esperado. Os níveis de bilirrubina indireta do recém-nascidos é naturalmente mais elevada do que nos adultos. Isto ocorre por 2 motivos:
– As hemácias dos recém-nascidos apresentam uma vida média mais curta do que as dos adultos. Além disso, os neonatos também apresentam uma concentração de hemácias mais elevada. O resulta final é uma quantidade muito maior de hemácias precisando ser destruídas e uma maior quantidade de bilirrubina sendo lançada na circulação.
– O fígado do recém-nascido é imaturo e sua capacidade de conjugação e excreção da bilirrubina é limitada.
A icterícia dita fisiológica (normal) é aquela que inicia-se ao redor do 3º dia de vida e desaparece em até 2 semanas. Em bebês prematuros ela pode demorar um pouco mais.
Os níveis de bilirrubina podem chegar ao redor de 15 mg/dL.
Quando a icterícia neonatal preocupa?
Apesar de ser muito comum, a icterícia em recém-nascidos pode ser preocupante, não só por poder indicar a presença de alguma doença, mas também por causar lesões no sistema nervoso central quando em níveis muito elevados.
A icterícia não deve ser considerada fisiológica quando:
– Inicia-se antes nas primeiras 24h.
– Apresenta concentrações sanguíneas acima de 20 mg/dL.
– Quando demora mais de 2 semanas para desaparecer (exceto em prematuros).
– Quando a bilirrubina direta também está muito elevada.
A icterícia que não apresenta características de fisiológica pode indicar que o recém-nascido tenha problemas do fígado, das vias biliares, hemólise ou qualquer outra doença que cause elevação das bilirrubinas.
Kernicterus
Kernicterus é o nome dado a encefalopatia (lesão do sistema nervoso central) causada pelo acúmulo de bilirrubina no cérebro. Ocorre principalmente quando há níveis de bilirrubina acima dos 25 mg/dL.
Os primeiros sinais clínicos de intoxicação pela bilirrubina incluem sonolência, diminuição do tônus muscular e recusa alimentar. Se não reconhecido, o bebê evolui para quadro de espasmos, choro inconsolável e febre.
Se o excesso de bilirrubina não for corrigido, o neonato pode evoluir para o Kernicterus, com lesão permanente do cérebro, cujo sintomas surgem após o primeiro ano de vida e incluem:
– Dificuldade em sentar, engatinhar e posteriormente andar
– Tremores e movimentos involuntários
– Alterações na audição e visão
– Retardo do desenvolvimento mental
– Alterações na arcada dentária
Icterícia do leite materno
Não sabe bem o causa, mas alguns neonatos apresentam icterícia relacionado a amamentação. A provável causa deve estar nas características químicas do leite de determinadas mães. A icterícia do leite materno pode ser uma causa para uma ictericia neonatal prolongada, uma vez que a mesma inicia-se ao redor da primeira semana e pode durar por até 3 meses.
Se o recém-nascido estiver se alimentando bem e mantendo o seu desenvolvimento normal, não há motivos para se interromper o aleitamento. A icterícia do leite materno é benigna e não acarreta em maiores problemas.
De modo oposto, a icterícia também pode surgir em recém-nascidos que não estejam sendo amamentados corretamente, sendo causada por um baixo aporte calórico para o bebê.

TRATAMENTO DA ICTERÍCIA NEONATAL


Fototerapia
Como a imensa maioria dos recém-nascidos melhora espontaneamente da icterícia, o tratamento só é indicado em caso mais graves. Em geral, indica-se tratamento quando a bilirrubina se eleva acima dos 18 mg/dL a partir do 3º dia, ou acima de 12 mg/dL nas primeiras 24 horas.
A fototerapia é o tratamento mais utilizado para se baixar os níveis de bilirrubina.
O recém-nascido é colocado sob uma luz azul fluorescente que age quebrando a molécula de bilirrubina em pedaços, facilitando a sua excreção na urina e nas fezes.
A fototerapia é um procedimento muito seguro e usado há mais de 30 anos. Em geral, é o único tratamento necessário.

HEPATITE A | SINTOMAS, TRATAMENTO E VACINA

HEPATITE A | SINTOMAS, TRATAMENTO E VACINA

A hepatite A é causada por um vírus chamado HAV, que é a sigla em inglês para “vírus da hepatite A”. O HAV só foi descoberto em 1973. Até a década de 60 nenhum dos 3 principais vírus da hepatite haviam sido identificados. Sabia-se que os pacientes tinham hepatite, mas a causa era desconhecida.
Ao contrário do que o senso comum possa indicar, o vírus da hepatite A é completamente diferente do vírus da hepatite B, que por sua vez, nada tem a ver com o da hepatite C. São, portanto, doenças distintas.
Apesar de já existir vacina, a incidência de hepatite A no mundo ainda é elevadíssima, principalmente nos países em desenvolvimento.

TRANSMISSÃO DA HEPATITE A

A hepatite A é transmitida pela via fecal-oral. As pessoas infectadas eliminam o vírus em suas fezes de modo constante. Para ser infectado é preciso que o vírus entre em contato com nossa boca. O contato oral com fezes de outros, em um primeiro momento, pode parecer um via improvável, porém, é muito mais comum do que imaginamos. Quanto pior for a condição de higiene do meio, mais fácil será a transmissão.
Exemplos de como se pode transmitir a hepatite A:
– Comidas preparadas por pessoas que não lavam as mãos após evacuação.
– Mergulhar em praias ou lagoas que recebem esgoto não tratado (o HAV pode se permanecer viável por até 6 meses).
– Frutos do mar oriundos de águas poluídas com esgoto não tratado.
– Tocar em objetos contaminados e logo após levar a mão a boca inadvertidamente.
– A hepatite A não é uma doença sexualmente transmissível, porém, ter relações com pessoas infectadas é um fator risco, principalmente se houver sexo anal seguido de sexo oral ou hábito de se lamber o ânus do parceiro(a). Neste caso o uso de camisinha não altera em nada o risco de contaminação.
Um dos grandes problemas da hepatite A é que o paciente contaminado começa a eliminar o vírus antes mesmo dos sintomas iniciarem-se. Por exemplo, cozinheiros com maus hábitos de higiene podem trabalhar semanas transmitindo o vírus sem que se suspeite da contaminação.
Para saber mais sobre doenças transmitidas por águas contaminadas, leia: DOENÇAS TRANSMITIDAS PELA ÁGUA.

SINTOMAS DA HEPATITE A

O período de incubação do HAV é de 2 a 6 semanas. Em crianças o quadro pode ser brando o suficiente para passar despercebido. Quando há sintomas, estes são muitas vezes confundidos com uma gripe ou uma gastroenterite leve. Não é incomum pessoas só descobrirem que tiveram hepatite A através de sorologias solicitadas ao acaso.
Nos adultos, a hepatite A costuma ser mais sintomática. Este é o grupo que costuma procurar atendimento médico durante a fase aguda da doença.
icterícia
Inicialmente a hepatite A se apresenta como uma virose gastrointestinal  inespecífica, com perda de apetite, náuseas, vômitos, fraqueza, dor muscular, dor de cabeça e febre. Após 1 semana surge a icterícia, sintoma clássico da hepatite A aguda, que se caracteriza por pele e olhos amarelados, comichão generalizado, urina escura e fezes de cor muito clara (leia: ICTERÍCIA NO ADULTO E ICTERÍCIA NEONATAL). 80% dos pacientes apresentam também hepatomegalia, que é o aumento do tamanho do fígado.
A hepatite A dura em média 2 meses. Ao contrário da hepatite B e, principalmente, da hepatite C, que costumam virar infecções crônicas, a hepatite A na maioria dos casos cura-se espontaneamente, raramente se tornando uma hepatite crônica.
Se por um lado a hepatite A costuma ser uma doença benigna que raramente se torna crônica, por outro, ela é a hepatite viral que mais frequentemente cursa como uma hepatite fulminante, levando a morte por insuficiência hepática caso não seja efetuado um transplante hepático de urgência. Felizmente esse quadro ocorre em menos de 1% das hepatites por vírus A.

DIAGNÓSTICO DA HEPATITE A

Nas análises de sangue, o principal achado é a alteração das chamadas enzimas hepáticas: TGO, TGP e bilirrubinas (leia: O QUE SIGNIFICA AST (TGO) E ALT (TGP)?). Nas hepatites agudas os valores de TGO e TGP costumam estar acima de 1000 IU/dL.
As enzimas hepáticas, porém, só indicam que há um quadro de hepatite aguda em curso, não sendo capazes de determinar a causa.
Para se identificar o HAV como agente causador da hepatite é preciso realizar uma sorologia para hepatite A. Na sorologia procuramos por 2 tipos de anticorpos: IgM e IgG.
– O anticorpo IgM, indica hepatite A ativa. Já encontra-se positivo quando os sintomas aparecem e permanece detectável por até 6 meses, quando, então, desaparece.
– O anticorpo IgG indica infecção antiga. Fica positivo após algumas semanas de infecção e assim permanece pelo resto da vida.
Temos, então, 3 possibilidades
– HAV IgG positivo e IgM negativo = Infecção antiga e curada.
– HAV IgG positivo e IgM positivo = Infecção ativa e a caminho da cura.
– HAV IgG negativo e IgM positivo = infecção ativa no início do quadro.

TRATAMENTO DA HEPATITE A

Como se trata de uma doença benigna com cura espontânea na quase totalidade dos casos, não há tratamento específico para a hepatite A.
Indica-se apenas repouso, boa alimentação e hidratação. Deve-se, obviamente, evitar bebidas alcoólicas e drogas que possam causar lesão hepática, como o paracetamol.
Vacina para hepatite A
Já existe vacina para hepatite A e sua administração é recomendada em crianças aos 12 e 18 meses de idade. A vacina também pode ser aplicada em adultos a qualquer momento. A vacinação de profissionais que trabalham com comida é útil para evitar epidemias pela transmissão através de alimentos. A vacina também é importante para pacientes que já tenham alguma outra doença do fígado, uma vez que este grupo apresenta maior risco de complicações quando exposto ao HAV.

APENDICITE | SINTOMAS, CAUSAS E TRATAMENTO

APENDICITE | SINTOMAS, CAUSAS E TRATAMENTO


Neste artigo explicaremos o que é o apêndice e o que é apendicite, além das causas, sintomas e opções de tratamento para uma apendicite aguda.

O QUE É O APÊNDICE?

O apêndice é um prolongamento do ceco, região que delimita o fim do intestino delgado e o início do intestino grosso (cólon). O apêndice possui aproximadamente 10 cm de comprimento e tem um fundo cego, como se fosse um dedo de luva. Seu formato lembra o de um verme, por isso, ele também é chamado de apêndice vermiforme.
Apêndice
É comum aprendermos no colégio que o apêndice é um órgão sem função. Esta informação não está totalmente correta, mas não também não pode ser considerada absurda. O apêndice não é um órgão completamente inútil ou inerte. A sua parede contém tecido linfático, que participa na produção de anticorpos. Além disso, o apêndice também serve como reservatório de bactérias intestinais que auxiliam no processo de digestão.
Todavia, as funções do apêndice não vão muito além disso, parecendo ser ele apenas um resquício evolutivo. A verdade é que, se o apêndice não é de todo inútil, também não parece fazer falta quando retirado cirurgicamente.
O que causa a apendicite?
O apêndice normalmente produz um volume constante de muco que é drenado para o ceco e se mistura às fezes. O seu grande problema é ser a única região de todo o trato gastrointestinal que tem um fundo cego, ou seja, é um tubo sem saída, como um dedo de luva. Qualquer obstrução à drenagem do muco faz com que o mesmo se acumule, causando dilatação do apêndice. Conforme o interior do órgão vai ficando mais cheio, começa a haver compressão dos vasos sanguíneo, com consequente necrose da sua parede. O processo pode evoluir até o rompimento do apêndice, o que é chamado de apendicite supurada.
Localização do apêndice
Existem várias causas para a obstrução do apêndice. Em jovens, é comum ocorrer um aumento dos tecidos linfáticos em resposta a alguma infecção viral ou bacteriana. Como o diâmetro interior do apêndice tem menos de 1 cm, qualquer aumento na sua parede pode obstruir a saída. Em idosos, o mais comum é a obstrução por pedaços ressecados de fezes. Também existe a possibilidade de obstrução por tumores ou por vermes intestinais, como o oxiúrus (leia: OXIÚRUS | Enterobius vermicularis).
Quando o apêndice fica obstruído e inflamado, as bactérias que vivem no seu interior conseguem atravessar a sua parede e alcançar a circulação sanguínea e o peritônio (membrana que recobre todo o trato intestinal). Este processo é chamado de translocação bacteriana e é responsável por grande parte dos sintomas da apendicite.

SINTOMAS DA APENDICITE

O ceco e o apêndice ficam no quadrante inferior direito do abdômen, por isso, uma apendicite se apresenta tipicamente como uma dor nesta região. O problema é que em fases iniciais, quando há somente a distensão do apêndice, ainda sem intensa inflamação ao seu redor, os sintomas podem ser muito vagos e não necessariamente localizados neste sítio.
Apêndice foto
Apêndice inflamado removido cirurgicamente
No começo da apendicite, a dor pode ser difusa, normalmente localizada na região do estômago ou em volta do umbigo. O apêndice é muito pouco inervado e sua inflamação isolada é mal percebida pelo cérebro. Somente quando o peritônio, este sim rico em terminações nervosas, fica inflamado, é que o cérebro consegue identificar mais precisamente a região afetada. O sintoma típico de apendicite é uma dor ao redor do umbigo, que vai ficando mais intensa conforme dirige-se para o quadrante inferior direito.
Náuseas, vômitos e febre são sintomas comuns nas fases avançadas da apendicite. Também podem haver diarreia ou prisão de ventre.
A apendicite pode levar à morte?
Quando a inflamação e a distensão levam à perfuração do apêndice, ocorre uma peritonite (inflamação do peritônio) por intenso fluxo de material fecal e bactérias intestinais para dentro da cavidade abdominal.
O paciente com peritonite apresenta intensa dor e o abdômen costuma ficar duro que nem uma pedra. O doente sente dor com estímulos simples, como pisar no chão ou mudar de posição.
Este quadro costuma ser chamado de abdômen agudo, e o tratamento da apendicite torna-se emergencial, pois o quadro pode agravar-se rapidamente. Se não foi operado logo, o paciente pode evoluir para o óbito por sepse (leia O QUE É SEPSE?), conhecida também como infecção generalizada.
De qual lado da barriga costuma ser a dor da apendicite?
Como já explicado, a dor da apendicite costuma ser no quadrante inferior direito do abdômen. Mas, lembre-se que nem sempre ela é tão bem localizada. Uma dor difusa na região inferior do abdômen, abaixo do umbigo, também pode ser a forma de apresentação da apendicite. Por outro lado, uma dor isolada no lado esquerdo não costuma ser provocada pelo apêndice. Não é impossível uma apendicite com dor à esquerda, mas é muito pouco comum.
Para conhecer mais causas de dor abdominal, leia: DOR NA BARRIGA | DOR ABDOMINAL | Principais causas
Para saber mais detalhes sobre os sinais e sintomas da apendicite, leia: 10 SINTOMAS DA APENDICITE – Adultos e crianças

APENDICITE CRÔNICA

Alguns pacientes apresentam quadros de obstrução intermitente do apêndice, havendo desobstrução espontânea sempre que a pressão dentro do órgão fica elevada. Imagine um pedaço ressecado de fezes alojado exatamente na saída do apêndice, obstruindo o escoamento do muco produzido. Se esse pedacinho de fezes não estiver bem preso, conforme a pressão dentro do apêndice for ficando maior, ele acaba sendo empurrado pelo excesso de muco acumulado, e a obstrução desaparece.  Outra hipótese muito aceita é o caso da hipertrofia da mucosa do apêndice (tecido que recobre a parede interna), levando à redução do diâmetro do seu orifício de saída, o que resulta em acúmulo de secreções no seu interior. Com o aumento da pressão, as secreções conseguem vencer a obstrução e, ao serem expelidas, levam à melhoria da inflamação e dos sintomas.
A apendicite crônica apresenta-se como um quadro de dor abdominal cíclica que costuma ser difícil de diagnosticar. Os sintomas só desaparecem de forma definitiva quando o apêndice é removido cirurgicamente.

DIAGNÓSTICO DA APENDICITE

Como em qualquer doença, o diagnóstico da apendicite começa pela avaliação dos sinais e sintomas através da história clínica e do exame físico. Como explicado acima, o apêndice é pouco inervado e quando não há inflamação dos órgãos ao seu redor, nomeadamente do peritônio, podem não haver sinais claros de apendicite ao exame físico.
Conforme a inflamação progride, torna-se fácil detectar uma intensa dor à palpação profunda no quadrante inferior direito do abdômen. Quando há peritonite, o paciente sente muita dor durante o exame físico no momento em que apertamos o abdômen com uma das mãos e subitamente a retiramos. Esta dor à descompressão é típica de processos inflamatórios do peritônio.
Os exames laboratoriais também são úteis, já que pacientes com peritonite costumam apresentar um número elevado de leucócitos no hemograma (leucocitose) (leia: HEMOGRAMA | Entenda os seus resultados).
Porém, uma suspeita clínica/laboratorial de um peritônio inflamado não é suficiente para fecharmos o diagnóstico da apendicite, já que existem várias outras causas para peritonite (ver a seguir em diagnóstico diferencial).
Casos típicos de apendicite, principalmente se avaliados por médicos experientes, podem ser diagnosticados sem maiores dificuldades, mas, atualmente, é muito comum e fácil solicitar exames de imagem para confirmação do diagnóstico. Os dois exames mais solicitados são a ultrassonografia e a tomografia computadorizada, sendo esta última a mais indicada em casos duvidosos ou com suspeitas de complicações.
Doenças que podem parecer com apendicite
A apendicite é uma das principais causas de dor e necessidade de cirurgia abdominal. Entretanto, vários outros processos inflamatórios dentro do abdômen ou pelve podem ser parecidos com os sintomas da apendicite, tais como:
– Diverticulite (leia: DIVERTICULITE | DIVERTICULOSE | Sintomas e tratamento).
– Doença de Crohn (leia: DOENÇA DE CROHN | RETOCOLITE ULCERATIVA | Sintomas e tratamento).
– Doença inflamatória pélvica.
– Diverticulite de Merckel.
– Ileíte aguda (inflamação do íleo, porção final do intestino delgado).
– Torção de cisto de ovário (leia: CISTO DE OVÁRIO).

TRATAMENTO DA APENDICITE

O tratamento da apendicite é, na maioria dos casos, feito através de apendicectomia, ou seja, retirada cirúrgica do apêndice. A apendicectomia pode ser feita de modo tradicional, chamada cirurgia aberta, ou pela videolaparoscopia.
A via laparoscópica é atualmente a mais usada em casos de apendicite não complicada, por ser menos invasiva e proporcionar um tempo de recuperação mais curto.  A laparoscopia pode ser indicada em qualquer paciente, mas ela é a forma cirúrgica preferida para pacientes obesos, idosos ou quando o diagnóstico da apendicite ainda não é 100% certo na hora da cirurgia.
A cirurgia aberta também é uma opção válida. Apesar de ser um procedimento mais agressivo e com tempo de recuperação maior, ela apresenta taxa de complicações mais baixa que a via laparoscópica. A decisão da via cirúrgica cabe ao cirurgião. Ele vai escolher, de acordo com as características clínicas do paciente, qual a via mais indicada para cada situação.
É possível tratar apendicite sem operar?
A cirurgia da apendicite é imediatamente indicada naqueles casos com menos de 3 dias de evolução. Nos casos no qual o paciente demora para procurar atendimento, a inflamação pode estar tão grande que dificulta a ação imediata do cirurgião, aumentando o risco de complicações durante e após a cirurgia. Nestes casos, se a tomografia computadorizada demonstrar presença de muita inflamação ao redor do apêndice, com formação de abscesso (leia: O QUE É INFLAMAÇÃO? O QUE É UM ABSCESSO?), pode ser preferível tratar a infecção com antibióticos por algumas semanas para reduzir o processo inflamatório antes de levar o paciente à cirurgia.
Outra situação em que pode-se tratar a apendicite sem cirurgia é nos casos de dúvida diagnóstica. Se após todos os exames, a equipe médica não se encontrar segura do diagnóstico de apendicite, ou se o caso parecer muito brando e o paciente estiver com bom estado geral, o tratamento só com antibióticos pode ser indicado. A cirurgia fica reservada apenas para os casos que não melhorarem. Esta conduta, porém, não costuma ser  a mais usada usada pelos cirurgiões, pois a taxa de recidiva do quadro a médio prazo é alta.

PÓS-OPERATÓRIO DA APENDICITE

Como a apendicectomia é uma cirurgia realizada frequentemente em pessoas jovens e saudáveis, uma das dúvidas mais comuns é sobre o tempo de repouso necessário.
Em geral, a internação dura 1 ou 2 dias apenas, caso nenhuma complicação pós-operatória imediata seja identificada.
O tempo de recuperação após a retirada do apêndice depende de vários fatores: idade do paciente, estado clínico, tipo de cirurgia realizada, complicações intra-operatórias, etc. Via de regra, os primeiros 7 dias são de repouso a sério. O paciente deve evitar esforços, e até a condução de veículos costuma ser desaconselhada. Após o 7º dia, o paciente pode começar a retornar às suas atividades normais. Crianças podem voltar à escola e adultos ao seu trabalho. Durante o primeiro mês, porém, o paciente deve evitar esforço físico ou situações que forcem muito a musculatura abdominal. Praticar esporte só após um mínimo de 4 a 6 semanas de pós-operatório. Relação sexual deve ser evitada nos primeiros 10 dias. Após esse período, se tiver corrido tudo bem na recuperação, o cirurgião pode autorizar o retorno das relações de forma parcimoniosa.

PERÍODO FÉRTIL PARA ENGRAVIDAR

PERÍODO FÉRTIL PARA ENGRAVIDAR

Saber reconhecer o seu período fértil é essencial para facilitar ou evitar uma gravidez, dependendo de qual é o seu desejo.
Neste texto iremos responder as seguintes questões sobre o período fértil:
  • Como funciona o ciclo ovulatório normal?
  • Quando ocorre o período fértil?
  • Como aumentar as chances de engravidar?
  • Quais são os melhores dias do ciclo menstrual para ter relações sexuais?
  • Como saber se está ovulando?
  • É possível engravidar estando menstruada?
Este artigo é uma versão simplificada do texto CICLO MENSTRUAL | PERÍODO FÉRTIL, mais completo e com maiores explicações sobre as alterações hormonais que regem o ciclo ovulatório. Neste texto vamos abordar o ciclo menstrual de modo mais superficial, dando mais ênfase ao período fértil e fornecendo dicas de como reconhecer a ovulação.

CICLO MENSTRUAL NORMAL

Para que você entenda o que é o período fértil, vamos antes fazer uma breve e simples revisão sobre o aparelho reprodutor feminino, ciclo menstrual e ação dos hormônios sobre a ovulação. Não se assuste, vamos tentar escrever de forma bem simples e didática, para que todos possam entender.
O ciclo menstrual é um processo natural que ocorre de modo cíclico em todas as mulheres férteis. Todo ciclo em que ocorre uma ovulação inicia-se e termina com a menstruação. A menstruação é um sinal que mostra que a mulher ovulou, mas este óvulo não foi fecundado.
A primeira menstruação da vida da mulher chama-se menarca. A última chama-se menopausa.
Por convenção, o ciclo menstrual (ciclo ovulatório) inicia-se no primeiro dia da menstruação, durando, em média, 28 dias e terminando no primeiro dia da menstruação seguinte. Algumas mulheres têm períodos mais curtos de até 21 dias, enquanto outras possuem períodos mais longos, indo até 35 dias. Mulheres adolescentes com menarca recente podem ter ciclos de até 45 dias, uma vez que seu sistema reprodutor ainda está amadurecendo. O mesmo prolongamento pode ocorrer com mulheres próximas da menopausa, quando já começam a haver sinais de falência dos ovários (leia: SINTOMAS DA MENOPAUSA).
Ao contrário dos homens que produzem seus espermatozoides continuamente ao longo de toda a vida, as mulheres nascem com um número contado de óvulos. São cerca de 450.000 e eles ficam estocados nos ovários, sendo liberados, na maioria das vezes, apenas um por ciclo. Enquanto os homens são férteis por toda a vida, as mulheres só podem engravidar entre o período de anos que compreende a menarca e a menopausa.
Componentes do sistema reprodutor feminino
Sistema reprodutor feminino
Os órgãos reprodutores das mulheres consistem em dois ovários, duas trompas, um útero e a vagina.
Para facilitar o entendimento, vamos considerar o ciclo normal aquele com 28 dias, começando e terminando sempre no primeiro dia da menstruação.
O ciclo menstrual é regido pelos hormônios TSH e LH, produzidos na hipófise, glândula localizada no cérebro, e pelos hormônios estrogênio e progesterona, produzidos pelos ovários.
Todo o processo hormonal têm duas funções: provocar a ovulação e preparar o útero para receber o feto, caso óvulo seja fecundado.
Resumidamente, o que ocorre é o seguinte:
1- Durante os primeiros dias do ciclo, o cérebro produz o hormônio FSH que provoca o amadurecimento dos óvulos, que por sua vez, passam a produzir estrogênio.
2- Enquanto os óvulos vão ficando maduros, o estrogênio age no útero, fazendo com sua parede (endométrio) cresça e se torne um local propício para a implantação do óvulo, caso este seja fecundado.
3- 14 dias antes da próxima menstruação, quando pelo menos um dos óvulos já encontra-se suficientemente maduro, a hipófise lança na corrente sanguínea um outro hormônio, chamado LH, que dentro de 36 horas provocará a ovulação.
4- Quando a mulher ovula, lança seu óvulo em direção as trompas e o ovário começa a produzir um novo hormônio, a progesterona, que será responsável em manter o útero rico em nutrientes e circulação de sangue, à espera do feto.
5- Se o óvulo não for fecundado, ele se degenera e a concentração de todos estes hormônios começa a cair. Sem hormônios, a parede espessa do útero não tem como se manter, e ela desaba. Isto é a menstruação. Agora, um novo ciclo se reinicia.

PERÍODO FÉRTIL

A menstruação ocorre sempre cerca de 14 dias após a ovulação. Não há como prever quando a mulher vai ovular, mas é possível saber retrospectivamente quando ela ovulou. Basta contar 14 antes do primeiro dia da menstruação. Isto significa que se o primeiro dia da nova menstruação foi no dia 20, a ovulação ocorreu ao redor do dia 6.
Mais uma vez, não é possível prever o dia da próxima ovulação com certeza, mas as mulheres com ciclos muito regulares, que conseguem prever com alguma exatidão o dia que a próxima menstruação virá, podem estimar o dia da ovulação com razoável eficiência. Portanto, vamos imaginar que o seu ciclo menstrual tenha 28 dias e funcione como um relógio. Você prevê que a próxima menstruação irá descer no próximo dia 24 deste mês. Se você estiver certa, isso significa que a sua ovulação ocorrerá por volta do dia 10. Infelizmente são poucas as mulheres que têm a sorte d te rum ciclo tão regular, que permita esse tipo de previsão. Na maioria dos casos, não é tão simples prever o dia da ovulação.
O óvulo, após a ovulação, tem uma vida útil muito curta, cerca de 12-24 horas. Por isso, se a mulher ovular hoje, o espermatozoide tem uma prazo máximo de 24 horas até encontrá-lo. Como o espermatozoide tem uma vida muito mais longa, cerca de 5 a 7 dias, as maiores chances de fecundação ocorrem quando a relação sexual acontece 24 a 48 horas antes da ovulação. O ideal é que, quando o óvulo chegue nas trompas, já exista uma grande quantidade de espermatozoides a sua espera.
Levando-se em conta a vida média do óvulo e dos espermatozoides, o período fértil acaba por compreender, em média, os 5 dias antes da ovulação até o dia seguinte a mesma.
Para aprender a calcular o período fértil, leia: COMO CALCULAR O PERÍODO FÉRTIL.

DICAS DE COMO ENGRAVIDAR

Trabalhos atuais mostram que a qualidade do sêmen é maior quando ocorre intervalo de 2 a 3 dias entre as ejaculações. Por isso, indica-se o coito dia sim, dia não, ou pelo menos, a cada 2 dias.
Quando não é fácil prever o dia da ovulação, sugerimos aos casais que queiram engravidar ter relações sexuais 3 vezes por semana, iniciando-as logo após o fim da menstruação. Deste modo garante-se pelo menos 3 relações dentro do período fértil e com um sêmen de melhor qualidade.
A posição em que se pratica o sexo e a presença ou não de orgasmo na mulher não influenciam na probabilidade de concepção. Do mesmo modo, ficar com as pernas para o alto ou qualquer outro tipo de posição ao final da relação sexual também não têm influência nenhuma. Nada indica que ocorra diminuição das chances de fecundação se a mulher retomar suas atividades logo após o fim do coito. Não é por falta de acrobacias ou devido a sua posição sexual favorita que você vai deixar ou não de engravidar.
O uso de alguns lubrificantes vaginais como KY e Astroglide inibem a motilidade dos espermatozoides e podem reduzir as chances de fecundação. Para casais com dificuldade em engravidar, sugere-se evitá-los.
Para saber mais dicas sobre como aumentar as chances de engravidar, leia: COMO ENGRAVIDAR?

COMO SABER SE ESTOU OVULANDO?

Existem algumas maneiras de se estimar o momento da ovulação. Como já foi dito, nas mulheres com ciclo menstrual muito regular é possível prever a data da próxima menstruação, prevendo, assim, que aproximadamente 14 dias antes será o dia da ovulação. O problema é que a maioria das mulheres não possui ciclos tão regulares que permitam utilizar essa técnica tão bem.
Logo após o pico de LH que induz a ovulação, a temperatura corporal da mulheres se eleva discretamente, cerca de 0,5ºC, permanecendo assim por mais 10 dias. Infelizmente esse método é pouco útil na prática. A medição da temperatura é um método bom para saber retrospectivamente se a mulher ovulou recentemente, mas essa subida costuma ocorrer tardiamente em relação a ovulação, não servindo para indicar o momento certo da relação sexual. Como o óvulo tem vida muito curta, quando se identifica a subida da temperatura, este praticamente já não está mais viável.
Muco cervical
Muco fértil
Outro modo pesquisar a ovulação é através do muco vaginal. Alguns dias antes da ovulação, o muco produzido pelo útero se altera, tornando-se mais espesso e elástico. Este muco é chamado de muco fértil, pois favorece a mobilidade dos espermatozoides em direção ao útero e às trompas.
Muitas mulheres conseguem detectar essa alteração nas características do seu muco, sendo uma indicação de que a ovulação está próxima de acontecer.
Algumas mulheres apresentam dor no momento da ovulação. A ruptura do folículo ovariano para liberar o óvulo, pode causar uma discreta irritação do peritônio, causando dor no lado onde está o ovário que ovulou. Esta síndrome é chamada de mittelschmerz, que significa dor no meio (do ciclo) em alemão.
Na prática, o modo mais simples para se identificar o período fértil é a dosagem do LH, uma vez que este se eleva 36 horas antes da ovulação. Já existem testes de urina, que podem ser adquiridos em farmácias, para detecção dos picos do LH pré-ovulatórios. É preciso salientar, porém, que existem falsos positivos.
Se você tem dificuldade em engravidar, o ideal é que este processo de acompanhamento da ovulação seja feito por um médico em uma consulta de infertilidade. Através da ultrassonografia o médico consegue visualizar diretamente os seus ovários e descobrir se há algum folículo maduro, pronto para romper-se e liberar um óvulo. O médico também pode estimular a ovulação com medicamentos, tornando o período fértil bastante previsível.

É POSSÍVEL ENGRAVIDAR DURANTE A MENSTRUAÇÃO?

Possível é, mas é muito pouco comum. Os raros casos costumam acontecer em mulheres com ciclos ovulatórios curtos e período de menstruação longo. Na verdade, ninguém engravida durante a menstruação, o que pode acontecer é a relação sexual se dar durante a menstruação e o espermatozoide sobreviver tempo suficiente para encontrar um óvulo.
Por exemplo: imaginemos que uma mulher no 7º dia de menstruação, ou seja, 7 dias de ciclo, já com uma perda muito pequena de sangue, resolve ter relações sexuais desprotegidas imaginando não haver perigo por ainda estar menstruada. Se esta mulher tiver ciclos ovulatórios muito curtos ela pode ovular poucos dias após o início da menstruação. Como o espermatozoide pode sobreviver no sistema reprodutor feminino até 5 a 7 dias, existe a chance deste encontrar um óvulo e fecundá-lo. A relação sexual ocorreu durante a menstruação, mas fecundação se deu alguns dias depois.
Entretanto, ainda há outras questões que dificultam a gravidez durante a menstruação. Primeiro, o ambiente vaginal cheio de sangue menstrual é pouco amigável ao espermatozoide, diminuindo sua viabilidade. Segundo, o útero acabou de descamar, não estando pronto para receber um óvulo fecundado, diminuindo as chances de progressão da gravidez.
Portanto, quando se pergunta: é possível engravidar estando menstruada? A resposta é: sim, possível é, mas é pouco provável que uma relação sexual ocorrida durante a menstruação resulte em uma gravidez.
Se você está na dúvida quanto a possibilidade de estar grávida, leia: POSSO ESTAR GRÁVIDA?
Se você quer engravidar e está tendo dificuldades, temos uma gama de artigos no site que podem ajudá-la a entender melhor a sua situação. Acesse os links ao longo desta página e vá procurando pelos assuntos que mais lhe interessam.