quarta-feira, 24 de março de 2021

Técnica em enfermagem de São Carlos 'ampara' mão de paciente intubada com luvas cheias de água morna

Ideia ocorreu após ela e as colegas de trabalho verem algo semelhante em um aplicativo. Medida ajuda a esquentar extremidades frias e oferece conforto a pessoas que passam por intubação.


Técnica em enfermagem ampara mão de paciente intubada por Covid-19 com luvas cheias de água morna — Foto: Semei Araújo Cunha


Para tentar amenizar o sofrimento de uma paciente com Covid-19 que estava intubada, uma técnica em enfermagem de São Carlos (SP) resolveu encher duas luvas de látex com água morna e as usou para ‘amparar’ a mão da mulher, que estava internada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Prado.

O fato ocorreu no sábado (20) e a profissional compartilhou o gesto nas redes sociais.

"Tudo por um carinho, um conforto e cuidado com o paciente, não basta ser profissional tem que ser empaticos humanos, deixar o coração falar faz bem", disse Semei Araújo Cunha na publicação.





Ideia

A ideia de colocar a luva para confortar a paciente surgiu após Semei e as colegas de trabalho Mariah Santos e Vanessa Formenton verem uma ação semelhante em um aplicativo de enfermagem. A técnica ficou conhecida como 'mãozinha'.

No caso da paciente intubada, as luvas foram preenchidas com a água quente do chuveiro e colocadas com o objetivo de esquentar as extremidades da paciente, que ficam frias na intubação, devido a dificuldade de circulação.

Colocar as luvas na paciente como se alguém estivessem segurando a sua mão, foi uma mostra de empatia e carinho das profissionais de saúde.


"Como a gente estava com uma paciente intubada, nós resolvemos fazer como uma forma de carinho, afago, humanização, como se alguém estivesse pegando na mão dela, e também para amenizar as extremidades que estavam bem frias, a mão estava bem gelada", contou Semei.

A técnica de enfermagem comentou que a restrição de contato físico imposta pela pandemia faz com que muitas pessoas se sintam sozinhas. Essa sensação é ainda maior em pacientes que estão internados, enfrentando a doença sozinhos, sem poderem ter contato com as pessoas queridas.

"É muito triste e desolador para todo mundo. Pacientes internados, intubados, sem contato com a família, sem contato com ninguém. Quem conversa, é só por celular e chamada de vídeo, não tem mais aquele afago, não tem carinho. Eles não podem receber visitas, o paciente se torna vulnerável. Querendo ou não, isso [as luvas] ajuda muito na carência porque essa doença deprime muito", disse Semei.


Espera por leitos


A paciente que recebeu as luvas era uma das muitas em São Carlos que ficam nos leitos de estabilização das UPAs da cidade à espera de um leito em hospitais para serem internados.

Há pelo menos dez dias, moradores de São Carlos sofrem com a falta de leitos para tratar a Covid-19 e alguns precisam ser intubados nas próprias UPAs e no Centro de Triagem antes de conseguirem ser internados.

Segundo a prefeitura, na segunda-feira (22), 10 pessoas aguardavam transferência em leitos de estabilização: uma na UPA do Cidade Aracy, uma na UPA do Santa Felícia, cinco na UPA da Vila Prado e 3 no Centro de Triagem do Ginásio Milton Olaio. Não foi informada a gravidade dos casos.

Até o último boletim divulgado pela Vigilância Epidemiológica, na noite de segunda, São Carlos somava 12.682 casos, entre eles, 189 óbitos.