quarta-feira, 6 de maio de 2020

Enfermeiros agredidos no México: 'agora temos que esconder nossos uniformes'

Desde o início da emergência sanitária devido à Covid-19 no México, os profissionais de saúde denunciam serem vitimas vários ataques físicos ou verbais. Eles ocorrem em transportes públicos, supermercados, ruas ou na saída de hospitais.
Enfermeiro na entrada de um hospital na Cidade do México, em 3 de maio. 


Desde o início da emergência sanitária devido à Covid-19 no México, os profissionais de saúde denunciam serem vitimas vários ataques físicos ou verbais. Eles ocorrem em transportes públicos, supermercados, ruas ou na saída de hospitais.


Duas enfermeiras foram atingidas com água e cloro em Jalisco e Sinaloa, oeste do país, segundo a imprensa local. A RFI coletou o testemunho de dois enfermeiros na Cidade do México.


Mario Palafox, mexicano de 34 anos, trabalha no serviço de emergência de um hospital da Delegação Itzapalapa na Cidade do México. Como vários de seus colegas nas últimas semanas no México, ele sofreu discriminação por trabalhar em contato com pacientes vítimas da Covid-19.


Ele foi agredido fisicamente por um paciente infectado com o novo coronavírus e que não queria se isolar de sua família. "Ele ficou desesperado quando eu disse que ele não podia ir, ele cuspiu na minha cara e começaram os golpes ... Nós o enfrentamos e, finalmente, em cinco pessoas, conseguimos imobilizá-lo na cama", diz Mario.


Alguns dias depois, quando Mario Palafox foi ao supermercado após o turno da noite, experimentou o que muitos de seus colegas já lhe haviam dito: a rejeição das pessoas por medo de contágio.


"Quando eu apareci com as calças e sapatos clínicos, me olharam da cabeça aos pés, se afastaram lentamente vários metros e, para pagar minhas compras, me reservaram um tratamento muito estranho", diz ele.



"Não é agradável, porque no trabalho usamos tudo o que precisamos para evitar a contaminação e na rua, acredite, contaminar e ser contaminado é o que menos queremos", acrescenta.


Uma colega de Mario, médica do serviço de clínica geral, "foi alvo de insultos e quase agredida fisicamente quando foi pagar (as compras) pelo cartão", relata. "Ela é uma pessoa que realmente está na linha de frente ... é lamentável receber esse tratamento, porque fazemos tudo por eles", diz Mario com dificuldade em conter as lágrimas.


O enfermeiro não vê sua mãe e seus irmãos há dois meses. E durante essa emergência sanitária, foi morar em outro lugar para não infectar a esposa nem o filho de quatro anos. "Muitos colegas do hospital decidiram se isolar para proteger suas famílias. É muito triste não poder abraçar meu filho e não vê-lo, apenas pelas telas", confessa.


"Estamos aqui por vocação, não pedimos reconhecimento, somos seres humanos", acrescenta.


Os ônibus não param


Mario e seus colegas também têm problemas para chegar ao centro de saúde por causa do medo de outras pessoas.


"No começo, eu usava meu uniforme branco para pegar transporte público de manhã, mas eles (os motoristas) não me me deixavam entrar", diz Anilu Ríos, enfermeira do mesmo hospital em Itzapalapa. "E quando eu entrava, todos se afastavam ... Então agora eu vou sem mostrar meu uniforme." .


“Nossos uniformes de enfermeiros agora temos que esconder”, conta Mario.


No início da epidemia, a discriminação ocorreu dentro do próprio hospital, nos setores onde não havia pacientes com a Covid-19. "Foram gestos, maneiras de te receber com má vontade... Há entre os colegas quem demonstre sua falta de conhecimento e profissionalismo no tratamento", lamenta Mario.


"Além da sobrecarga de trabalho que já existe em emergências, também estamos lidando com a falta de empatia dos colegas, isto nos deixa realmente muito muito tristes", conclui.